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Decreto Batendo o Martelo, Antônio Marinho Nascimento


Meus senhores de letras e de anéis
Por favor me escutem um minuto
E observem um momento este matuto
La da terra das feiras de cordéis
Onde a voz dos poetas menestréis
Tem a luz do improviso sobre-humano
Canta a dor, a tristeza, o desengano
Mas também canta o belo, a alegria
Canta a noite com a lua, o sol com o dia
Nos dez pés de martelo alagoano
São José do Egito é sem igual
Terra mágica que encanta o Pajeú
No sertão que inspirou Zezé Lulu
E o freqüente trocar de Lourival
De Canção é a terra original
E de Job o poeta mais humano
Que no pé-de-parede mano a mano
Foram todos uns grandes campeões
De um duelo ilustrado de emoções
Nos dez pés de martelo alagoano
Um decreto por nos foi assinado
Onde diz que quem nasce neste chão
Se não escreve ou improvisa algum quadrão
Tem que ter pelo menos decorado
Algum verso que foi improvisado
Por Marinho que foi nosso decano
Ou saber algo de Rogaciano
Pra se um dia um amor for pelos ares
Tomar uma dizendo "SE VOLTARES"
Nos dez pés de martelo alagoano

( Do livro: Nascimento,Antonio Marinho Nascimento
ed. bagaço 2003)




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