Pular para o conteúdo principal

Micro Contos do José Rezende Jr.

Beijo de goleador atravessa oceano e encontra torcedora

José Rezende Jr.

De Brasília (DF)

Dois mundos
Do outro lado do mundo o goleador beija a lente da câmera de tv. Do lado de cá, uma torcedora arrepia-se mais que todas as outras da favela.


Entrosamento
Torcendo-trepando no sofá: ela amante da ginga, do jogo de cintura, do toque sutil; ele fã do Dunga. Mas explodem juntinhos na hora do gol.


Zona Norte
Um cachaceiro tarado, num sei por que me ajuntei mais ele. Mas a culpa foi da menina, dos peitos dela nascendo-furando o pano da blusa.


A pátria de chuteiras e rodas de liga leve aro 22
O mendigo não vê, mas dentro da Hilux embandeirada que lhe cospe na cara fumaça e escárnio pulsa um coração verde e amarelo.


Outro mundo
Aterrissou a nave na solidão do planeta selvagem. Tinha uma foice, um martelo e a esperança de finalmente construir um mundo melhor.


(Publicados neste blog com autorização do autor)




José Rezende Jr. é autor de:

A Mulher Gorila - 119 páginas,Ed. 7 Letras-2005, ( R$ 24,00 -Cultura)
Eu Perguntei Ao Velho Se Ele Queria Morrer -88 páginas, Ed. 7 Letras-2009,(R$27,00 - Cultura)

Comentários

  1. Contos!
    Que seria de minha vida sem eles e sem a comunidade 'Livro Errante' que despertou este encontro.

    Voltarei, em breve. Um beijo especial na Lucila, a rainha dos contos Brasileiros (por ela acabei escrevendo meu primeiro conto online).

    Feliz niver, Regina, atrasada, como sempre!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

comentários ofensivos/ vocabulário de baixo calão/ propagandas não são aprovados.

Postagens mais visitadas deste blog

A Beleza Total, Carlos Drummond de Andrade.

A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços. A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda a capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa. O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito. Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um di

Mãe É Quem Fica, Bruna Estrela

           Mãe é quem fica. Depois que todos vão. Depois que a luz apaga. Depois que todos dormem. Mãe fica.      Às vezes não fica em presença física. Mas mãe sempre fica. Uma vez que você tenha um filho, nunca mais seu coração estará inteiramente onde você estiver. Uma parte sempre fica.      Fica neles. Se eles comeram. Se dormiram na hora certa. Se brincaram como deveriam. Se a professora da escola é gentil. Se o amiguinho parou de bater. Se o pai lembrou de dar o remédio.      Mãe fica. Fica entalada no escorregador do espaço kids, pra brincar com a cria. Fica espremida no canto da cama de madrugada pra se certificar que a tosse melhorou. Fica com o resto da comida do filho, pra não perder mais tempo cozinhando.      É quando a gente fica que nasce a mãe. Na presença inteira. No olhar atento. Nos braços que embalam. No colo que acolhe.      Mãe é quem fica. Quando o chão some sob os pés. Quando todo mundo vai embora.      Quando as certezas se desfazem. Mãe

Os Dentes do Jacaré, Sérgio Capparelli. (poema infantil)

De manhã até a noite, jacaré escova os dentes, escova com muito zelo os do meio e os da frente. – E os dentes de trás, jacaré? De manhã escova os da frente e de tarde os dentes do meio, quando vai escovar os de trás, quase morre de receio. – E os dentes de trás, jacaré? Desejava visitar seu compadre crocodilo mas morria de preguiça: Que bocejos! Que cochilos! – Jacaré, e os dentes de trás? Foi a pergunta que ouviu num sonho que então sonhou, caiu da cama assustado e escovou, escovou, escovou. Sérgio Capparelli  CAPPARELLI, S. Boi da Cara Preta. LP&M, 1983. Leia também: Velho Poema Infantil , de Máximo de Moura Santos.