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Último Abraço, Antônio Marinho do Nascimento


Dormia eu tranquilamente ou cochilava
Mas em meu sono algum ruído abriu um corte
Alguém batia em minha porta, alguém chamava
Noite chuvosa, hora avançada, alguém sem sorte.


Alguém que o sangue pelo frio já congelava
Algum boêmio cuja vida não deu porte
Abri a porta a até pensei que ali sonhava
Quando escutei: - olá amigo, eu sou a morte.


Somente isso ela me disse e já entrou
Como que ali já residia me beijou
Me aconchegando no calor do seu abraço


Adormeci e a minh’alma em outros vales
Fora do corpo que acarreta tantos males
Aliviou-se sem a cruz do meu cansaço

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Sobre o autor:É natural de São José do Egito, terra da poesia. Fruto de uma família de tradição poética, é filho de Zeto e Bia Marinho, neto de Lourival Batista, bisneto de Antonio Marinho, sobrinho de Otacílio e Dimas Batista, de Graça Nascimento e de Job Patriota (por emoção). Nasceu em 1987. Declamando desde os três e escrevendo desde os seis anos, lança aos dezesseis anos, seu primeiro livro: Nascimento. Reside no Recife e faz recitais por todo o Brasil.

O poema acima foi retirado do livro: – NASCIMENTO (Recife: Bagaço, 2003) que reúne os poemas do jovem poeta escritos do 6 aos 16 anos de idade. Outros textos do autor estão em sua página web: http://www.antoniomarinho.com/

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