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Crônicas da M.P.B: Águia de Haia, Ney Lopes e Luis Filipe de Lima


Águia de Haia
Luís Filipe de Lima e Nei Lopes

Saí do baile rumo a Copacabana

Mas no Campo de Santana recebi um santo

Quem viu me disse que foi um espanto

Que eu falei coisas meio um tanto ou quanto, sei lá

Dizem que eu falava discursando,

Com sotaque de baiano intelectual

E de repente, sem ter dó nem piedade

Eu entrei na Faculdade de Direito Nacional


(Data venia, homo sapiens! In vino veritas, libertas quae sera tamen! Dura

lex sed lex, habeas corpus pro labore! Etcetera...)


Na Faculdade escrevi regras e tratados

Dei lições pro doutorado com muita ciência

Só me chamaram de Vossa Excelência

Me convidaram pra livre docência, pois é

Discursei três horas sem dar pausa

Fui doutor honoris causa e quase fui reitor

Porém no meio dessa história gloriosa

O caboclo Rui Barbosa de mim desincorporou


(Quosque tandem, Catilina, abutere patientia nostra! Revertere ad locum

tuum! Vade retro, alter ego, persona non grata! Curriculum vitae? Delirium

tremens!)


Eu que já era um mestre consagrado

Fui então chamado de Doutor Bebum

De catedrático, eu passei a ser lunático

Um caso psiquiátrico, um alcoólatra comum

Tudo isso culpa de um traçado

Também fui misturar conhaque com rum

Agora, quando eu passo, levo vaia

Águia de Haia, Rui Barbosa Um-Sete-Um!



(Post scriptum: toma cuidado, meu camarada, que é como dizia o grande

filósofo afro-latino Neilópius: “Cullus bebedorum dominus non habet!”...

Data venia!!!)

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