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Motivo,Cecília Meireles

Eu canto porque o instante existe

E a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

Sou poeta.

 

Irmão das coisas fugidias,

Não sinto gozo nem tormento,

Atravesso noites e dias

No vento.

 

Se desmorono ou se edifico,

Se permaneço ou me desfaço,

- não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

 

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

 Fagner canta

(No livro Viagem, publicado em 1939) 

Comentários

  1. Oi Regina, obrigada pela sua visita. Passei por aqui para retribuir e conhecer o seu blog. Adorei! Gosto muito de poemas...estou seguindo o seu blog. Tenha uma semana de muita Paz e Luz! Beijocas e até breve...

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  2. Há certos poemas que acabam sendo emblemáticos do autor. Este é um deles para Cecília. Como imaginar a poeta sem ter esse poema sob as asas? Beijokas,

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  3. Ainda hoje me pergunto se Fagner gravou por isso ou aconteceu depois da gravação dele. De qualquer forma, mais que Retrato, este é a própria Cecília,
    Abraço.

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