Hoje, nosso querido García Marquez faria 91 anos. Trouxe por causa disso, uma matéria feita pelo jornalista Diego Iraheta.
Se você escolheu o jornalismo por paixão, seguramente já se inspirou
pelas palavras de Gabriel García Márquez. Seja pelas linhas de seu
realismo fantástico (Cem Anos de Solidão, Crônica de uma Morte Anunciada), seja pela força de seu relato jornalístico com pegada de literatura (Notícias de um Sequestro), seja pelas lições da "melhor profissão do mundo", como Gabo, aos 20 anos, costumava chamar o ofício da imprensa.
Nobel
de Literatura, García Márquez será lembrado pela maioria como escritor.
Mas, para mim e para todos que optaram pelas letras do dia a dia, ele
será sobretudo um grandioso jornalista. Começou nas redações aos 19
anos, fez entrevistas memoráveis, escreveu grandes reportagens. Crítico
do fazer jornalístico contemporâneo, concebeu a Fundación para el Nuevo Periodismo Iberoamericano, em 1995, em Cartagena das Índias, na Colômbia.
Com base em discursos e artigos
dele, reuni alguns dos pensamentos mais emblemáticos do colombiano
sobre o jornalismo. Estendo a você o convite permanente do
escritor-jornalista a refletir sobre os elementos que devem nortear a nossa profissão:
A vocação: a alma do jornalista
Quem passa horas em
portaria de ministério à espera de uma fonte OU sentado em frente a um
computador editando...editando...editando, pensando que o leitor merece o
melhor texto possível, OU na correria da rua para a redação e
vice-versa-vice (!) não faz isso por obrigação.
Jornalismo não é obrigação, não é um trabalho como outro qualquer.
É paixão e quase uma missão.
E, por isso, como García Márquez defendia, o jornalismo não vai entediar nunca aqueles que realmente são 'vocacionados'.
"Os que não aprendiam naquelas cátedras ambulantes e apaixonadas de vinte e quatro horas diárias [redações],
ou os que se aborreciam de tanto falar da mesma coisa, era porque
queriam ou acreditavam ser jornalistas, mas na realidade não o eram",
escreveu.
Ser jornalista é estar antenado na realidade, saber o que se passa à sua volta ou, pelo menos, buscar entender.
E essa busca, esse
interesse por conhecer, por descobrir, por explicar, ele simplesmente
existe. Está na alma, na essência de cada um de nós, jornalistas
genuínos. Sem floreios nem arrogância.
"Os
jovens que saem desiludidos das escolas, com a vida pela frente,
parecem desvinculados da realidade e de seus problemas vitais, e um afã
de protagonismo prima sobre a vocação e as aptidões naturais. E em
especial sobre as duas condições mais importantes: a criatividade e a prática."
É a prática que vai nos tornando melhores jornalistas. E a certeza de que somos apenas aprendizes, sempre e socraticamente.
A formação: a qualidade do jornalista
Hoje, estamos mergulhados em um ambiente em que grassa informação e falta formação.
Todo mundo tem opinião para tudo - no Facebook e na mesa de bar.
Cuspimos dados, reproduzimos discursos, mas não sabemos exatamente do que estamos falando.
Ao jornalista, cabe ajudar a sociedade a compreender, explicando os processos, o contexto, as diferentes visões.
Mas,
para isso, é necessária aos jornalistas "uma base cultural", amparada
na leitura como "vício profissional", referência perene nos discursos de
García Márquez.
Não é o que ele via nos jornalistas de hoje...
"Em
sua maioria, os formados chegam com deficiências flagrantes, têm graves
problemas de gramática e ortografia, e dificuldades para uma
compreensão reflexiva dos textos", escreveu.
Como solução, o escritor propunha a formação humanística, a leitura e a constante reflexão - de tudo: pauta, apuração, texto.
Assim,
seria possível "um aproveitamento crítico das experiências históricas, e
em seu marco original de serviço público. Quer dizer: resgatar para a
ampredizagem o espírito de tertúlia das cinco da tarde [reunião de pauta na sua época, em que todos descansavam ao mesmo tempo que discutiam calorosamente os temas do noticiário]".
A ética: a atitude do jornalista
Um dos principais valores da Fundación para el Nuevo Periodismo Iberoamericano é a ética.
García Márquez criticava
os jovens multitasking muito preocupados com furo e pouco interessados
nos procedimentos para conseguir a notícia com exclusividade.
"Alguns
se gabam de poder ler de trás para frente um documento secreto no
gabinete de um ministro, de gravar diálogos fortuitos sem prevenir o
interlocutor, ou de usar como notícia uma conversa que de antemão se
combinara confidencial", descreveu.
A conduta do repórter é, antes de tudo, uma decisão individual.
Cada um deve
questionar-se sempre sobre os limites de sua apuração, até que ponto ir
em busca de um dado, uma informação, uma entrevista.
Mas, o colombiano advertia, ética também anda junto com vocação e formação.
"De
todo modo, é um consolo supor que muitas das transgressões da ética, e
outras tantas que aviltam e envergonham o jornalismo de hoje, nem sempre
se devem à imoralidade, mas igualmente à falta de domínio do ofício",
ponderava.
Com
essas três lições, García Márquez certamente deixa um legado para todos
que estamos, no presente do jornalismo, construindo também o futuro da melhor profissão do mundo.
Fonte: Huffpost
Imagem: Doodle do Google, março 2018
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